sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Anger

Como adoro cinema, tento dentro do possível ver tudo o que me passe pela frente.
Bom ou mau, aprendo sempre alguma coisa. O Cintra Ferreira (os irmãos Lumiére o tenham em sagrado repouso), escreveu como aprendeu a gostar de cinema. É perfeitamente delicioso.
Um tio, resolveu levá-lo a ver um filme pornográfico por forma a causar no pequeno Manuel repulsa por tais fenómenos.Bem se lixou o familiar.
O futuro crítico levou o tempo todo a apreciar os planos de câmara mal amanhados, a falta de iluminação correcta, a montagem de fugir.
E é bem verdade. Aprende-se mais sobre a 7ª arte a ver mau cinema do que com o scorsese ou o eisenstein por exemplo. Porque já se dá como adquirido que com estes gajos se vai apreciar algo pensado, ponderado e com um fito na mensagem a transmitir pela imagem.
A sério, vejam um filme de terror rasca ou um porno, e depois experimentem ver o "casablanca". O vosso cérebro, os vossos olhos apreciam este último de outra forma.Torna-se ainda mais requintado.
Tudo isto para escrever sobre Kenneth Anger.
Hoje em dia, não deve haver muita gente a (re)conhecer o nome da criatura, quanto mais os filmes.
Ninguém sabe muito sobre a vida do realizador. Terá nascido por volta de 1927 (não vou maçar o leitor, mas existem pontos na vida dele que confirmam ou infirmam este dado. Seja ter privado com algumas pessoas em hollywood como a shirley temple, ou ter entrado como actor em determinadas películas que não batem certo com a data apresentada. É um mistério cultivado pelo próprio.)
O 1º filme como realizador terá sido "fireworks", em 1947. Pelas contas, teria vinte anos certo?O gajo alega que o filmou com 17. Enfim...
Tem como tema, muito sumariamente a descoberta da sexualidade por parte de um jovem homosexual (interpretado pelo próprio). Mete marinheiros, gajos com ar lânguido.Os clichés todos.
Mas o que importa para a história do cinema é o facto de Anger ter contribuido para uma revolução nesta forma de arte.
Contra os cineastas que, segundo ele levavam o cinema ao marasmo, como antonioni (pelo facto de retirarem toda a emoção dos planos, de sugarem todo o carácter visceral à imagem apresentada), Kenneth propunha filmes emocionalmente interventivos. Assentes em 1º lugar na impressão inicial sobre os sentidos. E que se lixe a conceptualização.
Anger acaba de certa forma, por fazer a ponte entre o cinema surrealista de um bunuel e as actuais instalações de vídeo nas artes plásticas. Vejam o 2º trabalho que apresento neste texto como sinónimo disso mesmo. Mickey mouse é reduzido ao absurdo, ad nauseum.
Completamente marado da tola, é influência em cineastas tão importantes como david lynch, scorsese.
Tentei arranjar filmes completos. Não apresento o "fireworks" ou o importante "lucifer rising", porque só encontrei versões em duas partes separadas. Para mim era um crime partilhar isso com o leitor, pois estraga toda a experiência sensorial dos filmes.
Optei assim pelo "invocation of my demon brother" de 1969 e "mouse heaven" de 2004.
O 1º, resulta do experimentalismo cultural e social dos anos 60. Tem música de mick jagger por exemplo.
Explora temas de oculto tão em voga nesta década, resultantes do renascimento do trabalho de alaistar crowley, o mago do início do século 20.A título de curiosidade, sempre se dirá que, aquando da projecção pública em londres, Anger surgia em palco indicando ao público o momento de tomar as pastilhas de lsd.Lindo...
O 2º, resulta numa instalação de vídeo em que o realizador decompõe, com alusões muitas vezes sexuais uma figura do imaginário infantil colectivo (daí a repetição quase em loop), seja mickey mouse.
Espero que apreciem.








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