quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Bonecos de peluche

Os reflexos nos olhos dos cegos. Das coisas que mais me assusta.
Parecem os vidros nas caras dos ursos de peluche. Pergunto muitas vezes a mim mesmo se aqueles ouvem e tacteiam tão bem como os bichos de brincar.
Ao ficarem a um canto de um quarto, silenciosos com as bengalas de teia de aranha e pó que vão acumulando nos braços moles.
Conheci em tempos uma rapariga (Será que se continua a poder chamar amiga a alguém que não vemos vai para seis anos.De quem não nos lembramos do nome do filho?Provavelmente não.Passa de pessoa a item numa lista de contactos mudos) a quem o mais que tudo oferecia um peluche sempre que não resistia ao chamamento da pele alheia.
Por força disto já tinha uma colecção de ursos de pano, capturados em zoo de centro comercial. Centros de acolhimento criados para disseminar animais destinados ao altar do perdão alheio.
O que mais me impressionava na colectânea, era um gigantesco Silvestre sem o Piu-Piu de apoio.Mais alto que eu.
E lá estava, parado e vestido de mosqueteiro. Espada de plástico em punho, como as bengalas dos cegos.
Se calhar é isso que me assusta.Ficar transformado em boneco de peluche.
Saber que por este mundo fora, existem pessoas a quem oferecem cegos para lembrar o que não viram.

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