sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tempus fugit

Bolas, só hoje me apercebi que o meu pai está a dias de fazer 60 anos.
Porra, é muito ano. Para quem no espaço de um ano perdeu dois avós, habituados que estamos a que façam parte da nossa vida, é complicado.
Se calhar é um cliche do pior, mas chegamos a um ponto em que damos as pessoas por garantidas. Existem, falamos com elas ao telefone.
Aquela pesssoa em modelo mais jovem andou connosco pela mão, comprou-nos gelados.
Orientou-nos quando nos ocorria qualquer asneira pela cabeça.
Sessenta anos é muito ano.Sem pressas quero compensar os anos em que andei de candeias às avessas com o meu pai.Antes tarde que nunca.
Bem vistas as coisas, descobrimos ambos que não somos más pessoas.

8 comentários:

Rita disse...

Fazes lindamente!
Eu sinto que tenho um grande vazio na minha vida pela ausencia do meu. E ele no entanto esteve sempre lá! Mas só porque as nossas gerações são muito diferentes/distantes, a nossa relação de pai-filha teve sempre uns kilometros pelo meio. Ele tem quase 80 e eu ainda só vou nos 34!
Nunca houve conversas entre nós, nem bricadeiras, nem nada. Fui sempre o centro das atenções para ele descarregar as suas chatices (era sempre comigo que implicava).
Se me perguntarem se eu acho que ele gosta de mim, eu digo que sim. Eu sei que gosta mas tem a sua maneira de não o mostrar (que não se pode dar muita confiança à miuda). Para além disso sou rapariga. É suposto eu "ser" da mãe. O filho é que é do pai.
Ciumes à parte, mal entendidos resolvidos, sinto sempre a falta de algo importante na minha vida, principalmente nos silêncios (porque não há conversa possível com estranhos que não se dão ao trabalho de tentar falar, nem que seja do tempo).
Mas eu até entendo. Ele era de outros tempos, de uma geração em que havia a subserviência da mulher (que eu abomino - e ele sabe e fica lixado comigo por causa disso), de uma geração que era assim. Eu é que nasci no tempo errado. Felizmente com a mãe certa e felizmente com a certeza que ele me adora mas eu não posso esperar muito mais dali.
Tenho a sorte de ter tido filhos no tempo certo e com o marido certo. Os meus não vão certamente queixar-se do mesmo. Mas coitadinhos, têm uma mãe chaaaaaaata!
(se isto não serve para nada, serve pelo menos para desabafar - já é bem bom!)

dumb witness disse...

O meu problema foi diferente.o meu pai tinha 24 anos quando nasci.Faculdade, palhaçada com os amigos.Um rapaz normal dessa idade.
Como fui criado com os meus avós e só via os meus pais pela hora do jantar, acabavam por ser duas pessoas estranhas. Com o nome científico de "pai" e "mãe".
Costumo dizer que o que tenho de bom, devo à minha avó materna.O que tenho de mesnos positivo, foi porque não a ouvi nas alturas devidas.
Claro que esta situação acabou por me desenvolver a personalidade de uma forma inegável. A autoridade causa-me transtornos de origem nervosa, sou "torto"como tudo.
Acho giro a maneira bonita como descreves a relação que tens com os teus filhos. Eu não quero ter descendência, mas encanta-me quem assume esse amor da forma tão simples como está exposto nas tuas palavras. De certo que não és chata. És uma mãe normal, preocupada com os teus meninos:)

Rita disse...

Lá está "mãe normal" = chata!!
Contigo foi o oposto. Um pai "fixe" - e provavelmente, até de mais!
O importante é sabermos tirar algo de positivo destas coisas todas.
Parabéns pela decisão. Há poucas pessoas com essas certezas e por vezes mais valia deixarem-se estar. Mas não! Não querem descendência mas decidem ter na mesma e depois dá no que dá. Crianças mal amadas, mal tratadas ou abandonadas, etc, etc, etc...
Agora percebi um comentário da tua I. que li há algum tempo.
:)

dumb witness disse...

Por acaso, a minha relação com o meu pai foi sempre complicada. Não era propriamente "fixe" :)
Enquanto eu via branco, ele via negro. Mas felizmente, essa fase foi ultrapassada.Mas não deixa de ser giro ver dois homens adultos, ligados desta forma tão biológica, tão básica (no bom sentido da palavra) a conhecerem-se aos poucos. Andamos sempre com pezinhos de lã.
Parece um tango verbal:)

Rita disse...

eheh
"Tango verbal" é bonito e descreve na perfeição.
No meu caso seria o "Tango do silêncio".
Se não abrir a boca, melhor.
Ora porque não falamos muito, ora porque não há tema de conversa, ora porque somos iguaizinhos mas com mentalidades e gerações que pensam de forma 100% diferente - batemos sempre de frente.
Há que saber viver, como diz "mamãe". E eu às vezes esqueço-me disso!

dumb witness disse...

O problema é que para mim viver passa muita vez por abrir a boca com as pessoas erradas, na hora errada e sobre os piores temas:)

Rita disse...

Já somos 2.
Controlar esta boquinha tem-se revelado uma tarefa bastante difícil.
Se eu te contasse os disparates que já daqui sairam!
Faz parte do nosso encanto natural (é uma boa forma de encarar o facto de ser desbocada)

dumb witness disse...

Mas é tão triste...
Um gajo lixar-se por dizer (muitas vezes, descontando o que sai por´efeito da fúria)o que é óbvio.
é triste