As convicções são como os assentos dos carros.Amovíveis.
Quando tinha seis anos, a minha mãe achou por bem espetar comigo na catequese.
Ora e agora que vejo à distância com o filtro dos anos, estar numa sala em 1981 com uma fotografia do cardeal cerejeira, é de notar que estava destinado à asneira.
Ao princípio é tudo muito giro. Livros para colorir, plasticina, jogos florais para entreter a criançada. Rapidamente e como em qualquer droga (sim, estou a medir bem as palavras), aquilo vicia e quando se dá por isso vem a ressaca.
Na figura da culpa, que nos é martelada nas trombas. E ficamos irremediavelmente presos.Emocionalmente, para uma criança é brutal ser informado que alguém sofreu daquela forma porque somos fraquinhos e caímos em pecado.
Vai daí, continuamos o trajecto cada vez mais absurdo do ponto de vista lógico.Tudo é como é porque sim.ponto.
Questionar é ter falta de fé, é faltar ao respeito pelo sofrimento de jesus.
Hoje já consigo perguntar:
" E eu pedi-lhe alguma coisa!?"
Se sou assim tão falível, e é dado como adquirido que vou pecar ao longo da vida, necessitando de mo lembrar passa um pouco por masoquismo na forma continuada com toques de alzheimer, não?
Com o passar do tempo e ao contrário do que se possa pensar, pelo menos na minha experiência, as coisas não vão ficando mais abertas em termos de discussão.
O "grupo de jovens" já pressupõe que um gajo não questiona.Discute no vazio.
Resolvi bater com a porta quanto à religião pela primeira vez devido a uma destas reuniões de adolescentes.
Quem dirigia a reunião, afirmou que deus estava com todos. Menos com as prostitutas e os toxicodependentes.Na altura revoltou-me.
Hoje, acho que freud é capaz de explicar muita coisa quanto a esta frase.
Voltei passado uns anos.Desconfiado quanto à utilidade do regresso, mas voltei.
Fiz o crisma sem convicção nenhuma.
Estou a resumir aqui um trajecto de anos que ainda me vai levar a carregar em muita tecla.
O ter-me afastado definitivamente não foi difícil do ponto de vista racional.
Sentimentalmente, foi horrível. Deus parece o frio, entranha-se nos ossos.
O medo da morte no vazio é um dos principais obstáculos.Ouvir desde pequeno que existe um céu para as pessoas boas (o que é isso já agora?)marca. Dá-nos um sentido definido e último.
O meu primeiro passo foi perder esse medo.Morremos, e está feito.
Sejamos verdadeiros seres humanos pelo valor intrinseco.Não por uma recompensa final.
Ironicamente, e acho que este último ponto vai dar outro momento de reflexão escrita, quem acabou por me afastar em definitivo foram os próprios crentes.
Aqueles que vão à igreja num mês muito mais do que eu já fui na vida toda provavelmente, e não vejo colocarem em prática um décimo do que apregoam.Batam as vezes que baterem com a mãozinha no peito...
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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